Constituída há dezenas de milhões de anos, a Mata Atlântica abriga a ocupação humana há séculos

O Parque Ecológico Imigrantes, uma área remanescente dessa floresta tropical − uma das mais espetaculares do mundo − proporciona aos visitantes a oportunidade de conhecer esse incrível ambiente natural e vivenciar a diversidade de plantas e animais que povoam a reserva e as imediações.

A grande atração são as trilhas, os caminhos e veredas que conduzem os visitantes à imponência da mata fechada. Segundo o biólogo Bruno Barbanti, diretor técnico da Pronativa consultoria e assessoria ambiental, organização contratada pelo parque, “algumas trilhas já existiam enquanto outras foram abertas ou passaram por renovações que seguiram os preceitos de mínimo impacto. No Brasil, quase não existe a prática de trilha porque a cultura ambiental ainda está em formação. Daí o impacto da vivência em um parque como este”.

No local, os monitores estão preparados para conduzir o visitante a conhecer um ambiente que ele não está acostumado a ver. De acordo com o monitor Wollen Dias Barbosa, para uma visita segura basta seguir algumas regras, e uma delas é nunca ultrapassar o monitor. Além dos cuidados básicos como o uso de “equipamentos” como perneira ou bota de couro longo, bota tipo Sete Léguas ou coturno; jeans ou roupa de fibra sintética tipo tactel, tanto para mulheres como para homens; camisa comum ou polo; chapéu ou boné; repelente de inseto e protetor solar; e, sempre, uma garrafa de água na mochila.

“Nunca aconteceu, mas se houver previsão de chuva, o correto é levar capa e guarda-chuva”, esclarece Wollen Barbosa que mora na região desde criança. Os cuidados com o meio ambiente são de suma importância, por isso o monitor lembra que durante o trajeto pela trilha os visitantes não podem colocar nada no bolso; não podem fazer fogo, fumar ou deixar qualquer tipo de lixo. É regra trazer tudo de volta. Os piqueniques também são proibidos. Mas algumas pessoas precisam parar para descansar e, daí, fica permitido comer fruta ou cereal, contanto que as embalagens sejam recolhidas. Já que deixar qualquer vestígio de comida na mata pode atrair os animais.

Localizado no bairro Cateto, município de São Bernardo, o parque forma um corredor para a fauna transitar entre as áreas vizinhas do manancial da represa e do Parque Estadual da Serra do Mar. A manutenção desses corredores para manter a continuidade desses remanescentes da mata é essencial para proteger a diversidade biológica do bioma sul-americano.

“O acervo do parque é composto inclusive por espécies ameaçadas como o palmito juçara”, destaca Barbanti. Ele lembra que a vocação principal do parque é a de estabelecer parcerias com universidades e pesquisadores para atividades educacionais monitoradas. “Temos áreas fechadas apenas para pesquisadores, que ficam isoladas. Sabemos que o excesso de uso impacta o piso e, por isso, fazemos rodízio de trilhas. Em média 40 pessoas visitam o parque, todos os dias”.

Segundo Barbanti, não existem documentos históricos, mas os habitantes locais contam que, durante a Segunda Guerra Mundial, a madeira local foi usada para produzir combustível com a finalidade de alimentar uma olaria e uma siderúrgica.

“A mata é secundária em estado de regeneração. Isso significa que a floresta já foi destruída e usada para a extração de madeira, inclusive madeira de lei, para produzir carvão vegetal. Por isso, vamos continuar o trabalho de reintroduções de espécies vegetais para regenerar o bioma no médio e no longo prazo”, diz Barbanti.

Não só os pesquisadores e alunos envolvidos com educação ambiental mas o público em geral procura o parque em busca de contato com matas nativas ou faunas silvestres. Barbanti dá um exemplo: “Cresceu muito a procura por observadores de pássaros com máquinas fotográficas, estamos preparando um serviço para dar uma assistência especializada a esse público”, revela.

Clique aqui para visualizar o mapa das trilhas do Parque Imigrantes:

A trilha dos macacos demora cerca de duas horas e meia para ser percorrida. É a mais longa.

A mais curta, de 15 minutos, é a das orquídeas e bromélias que se encontra interditada no momento para replantio e reforma.

A das samambaias, pode levar 25 minutos mas se o visitante tiver dificuldade de locomoção pode demorar um pouco mais. “Essa trilha inclui milhares de espécies, algumas em extinção como trepadeiras, xaxins e espécies do tamanho de uma árvore”, explica Wollen.

A trilha das antas percorre a passarela, corta a trilha dos macacos e volta ao ponto de origem. Recebe esse nome porque, durante as obras, uma anta costumava “inspecionar” o andamento dos trabalhos.

Trilha Sensorial

Já a trilha sensorial, que começa na plataforma e segue ao interior da mata, foi construída para permitir acessibilidade aos cadeirantes e deficientes, permite a eles sentir o toque, paladar e até aromas de plantas nativas ou exóticas. Lá o visitante com deficiência visual vai encontrar placas com informações que possibilitam a leitura em braille.

A passarela principal que liga o portal de entrada ao elevador atinge oito metros de altura no seu ponto mais alto, de onde é possível vislumbrar a copa das árvores. Construída em madeira plástica, a obra evitou qualquer tipo de interferência ou recorte no terreno. Assim, a trilha ficou suspensa, construída de forma palafitada, sem contato direto com o solo. No final do caminho, há um elevador de plano inclinado, que conduz o usuário do parque a uma visão aérea.

A trilha sensorial do Parque Ecológico Imigrantes tem início na plataforma das células e segue para o interior da mata. É um espaço onde o visitante pode ter contato íntimo com a flora e fauna locais. Uma experiência em meio à Mata Atlântica.

Uma trilha inclusiva, pensada para proporcionar experiências de aprendizado a deficientes visuais, acessível a cadeirantes e a deficientes auditivos.

O trajeto é agradável, em meio às árvores, e estende-se por uma passarela em madeira plástica sustentável. Elevada por palafitas, a estrutura gera o menor impacto possível sobre o solo e vegetação.

O visitante transpõe um túnel de vegetação, sente seu cheiro e frescor. Ao sair, pode contemplar o lago de águas cristalinas.

Logo à frente, a concha acústica proporciona ambiente ideal para apreciar o som dos pássaros e ruídos característicos da mata, numa experiência auditiva.

Uma sessão com canteiros expõe mudas de plantas à altura das mãos e permite fácil acesso a crianças, cadeirantes e deficientes visuais, para que possam tocá-las.

Todos os itens foram pensados dentro dos princípios de sustentabilidade: o reaproveitamento e filtragem da água descartada; a plataforma suspensa para causar o menor impacto no solo e vegetação; os materiais utilizados e reutilizados. Da forma como foram planejados, transformam uma simples visita em uma aula sobre as possibilidades de se aplicar a sustentabilidade no processo de construção.