Aranhas da Mata Atlântica

Elas estão por todos os lados. Microscópicas, minúsculas, pequenas, grandes, “pernudas”, esbeltas, arredondadas e peludas. Coloridas, nos tons preto, vermelho, marrom ou amarelo, são vistas penduradas em meio às estruturas ou nos guarda-corpos da passarela elevada. No telhado do Portal de Entrada, na cerca, no jardim ou no muro. Na mata, estão em constante atividade, subindo e descendo em árvores, plantas, galhos ou pequenas folhas e estruturas. Ou dentro das bromélias e flores, que juntam água e insetos. Embaixo de pedras, andando no solo ou caçando com as teias nas copas das árvores. A maioria delas tem 8 olhos e é muito provável que disponham de pelo menos um deles para “observar” os visitantes do Parque Ecológico Imigrantes (PEI).

Para quem conhece o assunto sabe que as características citadas são as das aranhas. As artrópodes da classe dos aracnídeos (ordem Araneida) são consideradas de grande importância ecológica para os especialistas e fazem parte de um dos grupos mais diversos de espécies já descritas pela ciência até hoje, com cerca de 38.000 espécies. Segundo alguns trabalhos, atualmente na Mata Atlântica podem ser encontradas mais de 270 espécies de aracnídeos, com maior ocorrência de Aranhas (Araneae) e Opiliões (Opiliones).

De acordo com o biólogo do parque, Bruno Barbanti, “na maioria das vezes são avistados Opiliões que são confundidos com aranhas. As espécies presentes no PEI são de pequeno porte, passando despercebido aos olhos dos visitantes.

Na região do PEI, como em outros fragmentos de Mata Atlântica remanescente, é muito difícil determinar a riqueza total de espécies, pois existe uma alta diversidade de organismos. Para desenvolver estudos que possam contribuir com o avanço, tanto do conhecimento básico sobre o funcionamento dos ecossistemas, quanto para o monitoramento e planejamento de programas de conservação dos aracnídeos, o parque vem estabelecendo parcerias com as universidades, como a Universidade Federal de São Paulo.  Mas o conhecimento sobre os invertebrados da Mata Atlântica é ainda incipiente dado o potencial dos biomas.

Um dos aspectos mais curiosos das aranhas é a produção da teia. Os fios são constituídos por uma mistura de proteínas denominada seda, que é secretada por glândulas localizadas no abdômen. As teias são produzidas para servirem de abrigo e usadas como revestimento para as tocas e na formação de redes de captura de insetos, o principal alimento.

Elas possuem um sistema sensorial muito desenvolvido, composto por órgãos sensíveis a estímulos químicos (presentes em algumas de suas 8 patas) e físicos (principalmente vibrações). Embora a maioria das aranhas possua 8 olhos, poucas utilizam a visão como orientação principal. A dieta é composta também por animais maiores (lagartos, anfíbios, filhotes de roedores e pássaros). Para capturá-los, as aranhas desenvolveram um aparelho venenoso que auxilia na imobilização da presa e na digestão do alimento.

Espécies encontradas na Mata Atlântica:

Nephila 

Constitui um gênero de aranhas muitas vezes chamadas de “aranhas-tecedeiras” ou tecedeiras-de-seda-dourada. Essas aranhas são notáveis na sofisticação de suas teias, que muitas vezes assumem uma forma “tridimensional”.

Argiope

É um gênero de aranhas araneomorfas da família Araneidae que inclui aranhas grandes e apresentam um elevado dimorfismo sexual, sendo as fêmeas (aproximadamente 2,5 cm) cerca de 3 vezes maiores que os machos (aproximadamente 8 mm). As espécies deste gênero têm o abdómen  colorido e estão distribuídas por todo o mundo; em países com climas temperados têm uma ou mais espécies com aparência similar.

Família Salticidae (Aranha Papa Mosca)

Família mais numerosa de aranhas, contando com mais de 500 gêneros e cerca de 5 000 espécies (cerca de 13% das espécies conhecidas de aranhas, conhecidas popularmente como aranhas-saltadoras ou aranhas papa-moscas), com distribuição quase mundial. Estas aranhas não fazem teia para caçar, mas ficam à espera, saltando rapidamente sobre a presa. Podem saltar também para se movimentarem, ou para fugirem dos predadores.

Lycosa 

Gênero do qual são catalogadas em torno de 235 espécies de aranhas pelo mundo. São conhecidas popularmente como aranha-de-jardim ou Tarantula. Apesar de freqüentemente confundida com a aranhaarmadeira, extremamente agressiva e venenosa, são muito mais reclusas e contam apenas com uma fraca toxina, inofensiva ao homem.

Theraphosidae

Inclui as espécies conhecidas pelos nomes comuns de  caranguejeiras que se caracterizam por terem pernas longas com duas garras na ponta, e corpo revestido de cerdas. As caranguejeiras habitam as regiões temperadas e tropicais das Américas, Ásia, África e Oriente Médio. Enquanto crescem, têm uma fase de troca de pele chamada ecdise. Apesar do tamanho e aspecto sinistro, as caranguejeiras não são perigosas para a espécie humana, uma vez que não produzem toxinas nocivas aos humanos, por isso são eventualmente criadas como animais de estimação.

Uma de suas defesas são os pelos urticantes de suas costas e abdômen, que irritam a pele do possível predador. Em média atingem de 15 cm a 25 cm de comprimento com as pernas estendidas, mas existem espécies que podem chegar até 30 cm, como é o caso da caranguejeira-gigante-comedora-de-pássaros (Theraphosa blondi) da América do Sul.

Phoneutria nigriventer 

Espécie de aranha conhecida pelos nomes comuns de armadeira ou aranha-bananeira. É uma espécie araneomorfa da família Ctenidae, considerada como uma das espécies de aranha mais tóxicas conhecidas.

É uma grande aranha errante, de aspecto imponente e comportamento agressivo. Possui tamanho próximo ao de uma mão humana e grandes quelíceras de coloração avermelhada. Dois olhos grandes frontais e dois, de menores dimensões, em cada lado.

As patas são grossas e peludas, fazendo desta aranha, que é muito veloz, um animal temido nos navios de transporte de bananas, nas plantações e nos portos tropicais. A área de distribuição natural inclui o Brasil, o Paraguai, o Uruguai (onde terá sido introduzida) e o norte da Argentina.

Opilhões (ordem Opiliones)

São artrópodes da classe dos aracnídeos. É a terceira ordem mais numerosa dos aracnídeos (seis a dez mil espécies), superada apenas pela ordem dos Acari e Araneae. As principais características da ordem são: fusão entre cefalotórax e abdome; presença de pênis e ovipositor; presença de um par de glândulas repugnantes na região lateral-anterior.

São divididos em quatro grandes grupos ou subordens: Cyphophthalmi, Eupnoi, Dyspnoi e Laniatores. Apresentam hábito predominantemente noturno e são conhecidos popularmente no Brasil como aranha-bode, aranha-fedorenta, bodum, devido à secreção que podem soltar quando ameaçados. São inofensivos para humanos. Ainda é uma ordem pouco distinta, mas o conhecimento sobre a sua biologia vêm aumentando bastante principalmente no século XXI.

Viúva Negra (Gênero Latrodectus)

A “viúva-negra” (Latrodectus curacaviensis) é pequena e tímida e mede em torno de um centímetro, com patas longas e frágeis. Seu colorido é negro metálico, com o abdômen arredondado e apresenta vários desenhos de cor vermelho-viva, às vezes ornados com finas linhas brancas. Sua teia é formada por uma rede de fios desordenados, nos quais ela permanece virada para baixo, capturando seu alimento.

Quando derrubada, a aranha finge-se de morta ou tenta fugir, arrastando seu pesado abdômen, porém, quando perturbada em excesso ou comprimida contra o corpo (por exemplo, dentro das roupas, ou nos lençóis durante o sono), pode picar com relativa facilidade. O veneno da viúva-negra é muito tóxico para o homem. Ele ataca o sistema nervoso provocando dores musculares muito intensas, náuseas, dor de cabeça e alterações cardio-respiratórias, sendo mais grave em crianças e podendo causar acidentes fatais em pessoas sensíveis.

Aranha Marrom (Gênero Loxosceles)

São aranhas muito pequenas: não passam de 4 cm de envergadura. Vivem em ambientes escuros e secos onde tecem teias irregulares, muito parecidas com fiapos de algodão, nos quais capturam seu alimento (composto basicamente por insetos como moscas, besouros, baratas etc). Na natureza, as aranhas marrons são encontradas sob cascas de árvores, debaixo de pedras e dentro de grutas.

Nas cidades, esses animais se proliferam dentro das residências humanas, onde fazem teias atrás de móveis, quadros, pilhas de madeira e material de construção. São aranhas muito tímidas e de hábitos noturnos. Os acidentes ocorrem quando são comprimidas contra o corpo dentro de roupas, toalhas, roupas de cama etc.

Seu veneno é extremamente tóxico para o organismo humano e o local da picada pode apresentar: bolhas; inchaço; aumento de temperatura e lesões hemorrágicas, com ou sem dor em queimação. A ausência de dor faz com que o acidentado demore a procurar socorro médico, o que pode complicar o tratamento. Após alguns dias, a área da picada apresenta necrose que deixa uma úlcera de difícil cicatrização.