A construção do Parque Ecológico Imigrantes envolveu conceitos e técnicas de bioconstrução

A bioconstrução engloba, como um dos itens principais, a postura de reflexão constante sobre como preservar ao máximo as características naturais do espaço e valorizar e reaproveitar os materiais disponíveis.

Na concepção de um parque ecológico se tem entre os principais valores promover a educação ambiental com a aplicação e a apresentação de tecnologias de sustentabilidade na arquitetura e construção. Com isso, o Comitê Gestor e a equipe técnica do PEI desenvolveram ferramentas próprias para facilitar e agilizar a execução dos processos de bioconstrução, sempre em consonância com a fauna e flora da Mata Atlântica.

Desde o início, a abordagem do trabalho visou o menor impacto possível no ingresso ao terreno, com o objetivo de manter ao máximo as características naturais de uma mata secundária tardia. As ferramentas utilizadas para alcançar esse objetivo foram o planejamento e a execução da engenharia de área natural, com manejo silvo florestal, respeito à topografia original, manutenção da permeabilidade do solo e gestão dos pontos de escoamento pluvial, entre outras.

Nesse processo, samambaias, orquídeas e bromélias, palmeiras, araçás, goiabeiras, entre outras espécies de vegetação, das áreas licenciadas para supressão, foram numeradas, extraídas e replantadas, uma a uma, em outros locais do parque, formando trilhas e praças temáticas que levam os nomes das flores.

Em um segundo momento, já com as obras em andamento – como na construção do portal de entrada, passarela elevada, elevador de plano inclinado, trilhas, entre outras intervenções −, o processo buscou o reaproveitamento constante dos resíduos.

Reuso de material

O principal desafio da bioconstrução no PEI foi dar destino à terra retirada das escavações feitas para a introdução das sapatas de concreto das fundações que sustentam cerca de 300 estacas da passarela suspensa. Para onde deveria ir esse material? Se mal alocado, em época de chuva, poderia ir parar em um rio e assoreá-lo ou formar montes de terras dispersos prejudicando a vegetação. Além disso, a terra poderia ter como destino um aterro sanitário, o que causaria impacto ambiental.

Surgiu então a proposta de ensacar a terra e dar outro destino, para que fosse utilizada na contenção de encostas de trilhas. Dessa forma, a terra foi realocada e reutilizada no próprio parque, não só nas trilhas mas, também, na construção de um lago artificial, no paisagismo, entre outras soluções. O mais importante é que nenhuma pá de terra foi retirada do local. O material foi ensacado para facilitar o transporte manual, sem o uso de máquinas.

No PEI, não houve destinação de resíduos, tudo foi reaproveitado no próprio parque. O lago foi construído com os sacos de terra e concreto armado projetado em fibras de sacos de laranja e cebola, o que traz resistência e alta durabilidade, substituindo o uso de telas metálicas. Alguns mangotes da tubulação metálica, por exemplo, utilizados para o transporte de concreto durante a obra e que foram descartados no processo, deixaram de ir para aterros sanitários e foram utilizados na demarcação da área dos carros no estacionamento.

Manejo do bambu

A utilização do bambu como material construtivo no PEI segue duas linhas de trabalho. Uma trabalha com bambus gigantes vindos de outras áreas para a construção de estruturas mais pesadas e grandes. A outra, com as touceiras de bambu presentes no parque, que estão sendo manejadas − conforme crescem os bambus mais velhos eles são retirados e utilizados para a confecção de corrimãos e nas escadas das trilhas.

Esse processo já está entrando em sincronia e o tempo de crescimento dos bambus, que leva de um a dois anos, em relação ao período em que ele apodrece nas trilhas, está sendo quase o mesmo, formando um ciclo de reposição de um produto nativo florestal.

Os mapas das trilhas

As trilhas dos bichos, sensorial, dos macacos, das samambaias e das bromélias formam o mapa de trilhas de uso público e turístico que foram abertas ou que já existiam e foram renovadas seguindo os preceitos de técnicas de mínimo impacto no Parque Ecológico Imigrantes. As demais trilhas são destinadas à manutenção, fiscalização ou para usos específicos e restritos, pois passam por áreas mais distantes e remotas ou fazem parte da divisa do parque.

No passado, muitas das trilhas que já existiam na floresta foram feitas com carreadores para a exploração da madeira. O parque aproveita esse percurso e os mantém limpos para atalho e fiscalização.

A pluviosidade presente na área da cabeceira da Serra do Mar impõe cuidados específicos para se criar uma trilha, tanto para a segurança dos visitantes quanto para evitar um impacto no solo. Nesse caso, a escolha se deu pelo piso com a pavimentação com brita, por ser um material com alta capacidade de drenagem e antiderrapante.

Em se tratando de uma área de Mata Atlântica, caracterizada pela alta incidência de umidade e chuva, a preocupação com a circulação de pessoas em percursos propícios à formação de poças de água é essencial. Além disso, é fundamental a escolha do relevo correto, com pontos de drenagem, para a implantação de um trajeto que proporcione segurança aos usuários.

A trilha de acesso à ponte suspensa é um bom exemplo. Apesar de ela estar localizada no morro, não foi necessário nenhum tipo de interferência ou recorte no terreno. A trilha ficou suspensa, construída de forma palafitada, sem contato direto com o solo. Nesse caso, o manejo da terra e de metais e madeira formaram uma estrutura que permite a circulação com segurança e baixo impacto ambiental.