Quase sempre ao pôr do sol começam as vocalizações dos bugios no Parque Ecológico Imigrantes

“Esse ronco é um sinal de saúde ambiental, uma espécie de música da floresta”, define o pesquisador de primatas Mauricio Talebi da Associação Pró-Muriqui e professor da Unifesp, Universidade Federal de São Paulo, de Diadema. De taxonomia do gênero complexa, o Alouatta é um macaco do Novo Mundo, também chamado de macaco-uivador, guariba ou barbado. Os três grandes grupos estão espalhados pela América Central, Amazônia e Mata Atlântica. Uma única espécie habita o Cerrado e o Pantanal.

As cenas mais comuns de bugios vermelhos do parque, segundo Bruno Barbanti, biólogo da Pronativa consultoria e assessoria ambiental, são a mãe com um filhote. As vocalizações, ouvidas a quilômetros de distância indicam a presença dos bugios que costumam dormir em outros locais para se deslocarem, na hora do almoço, atrás de brotos e folhas de embaúba. Barbanti conta que há relatos de bugios que comem ovos de pássaros ou galinhas.

Comparado com outros primatas, o bugio vermelho não é dos mais espertos, mas pode invadir ambientes domésticos em busca de alimentos. Antes da área pertencer ao parque, no setor dos fundos, os bugios já foram caçados. “Lá tem gente que, desde criança, montava armadilhas para caçar os macacos”, revela Barbanti. “Mas o setor do parque próximo ao portal, aos poucos, é percebido pelos bugios como uma área segura. Aqui, ninguém vai fazer nada contra eles”, diz. Mesmo assim, é preciso lembrar que os bugios, de maneira geral, possuem temperamento hostil e mal-humorado. Em algumas regiões da cultura Maya, na América Central, o bugio era considerado uma divindade.

O parque, que tem no DNA o estudo e a conscientização sobre a importância da Mata Atlântica, está firmando um convênio de cooperação com o departamento de ciências ambientais da Unifesp que fará um diagnóstico para constatar a ausência ou presença de bugios e outras espécies como o muriqui e o macaco-prego.

De acordo com o professor Talebi, “em 12 meses, a pesquisa estaria completa”. Analisados por estudantes, estagiários e pós-doutorandos da universidade de Diadema, o estudo também pretende levantar informações sobre os hábitos alimentares dos bugios. O resultado da pesquisa ajudará o parque a plantar e replantar espécies que atraem os bugios. Herbívoros, os bugios são atraídos por frutas, brotos, flores e sementes dos topos das árvores. Por instinto, eles evitam espécies que contêm toxinas que podem causar envenenamento.