As borboletas ajudam a compor a beleza do passeio pelo Parque Ecológico Imigrantes

A altura da passarela elevada colabora, em determinados momentos, a ver de cima o movimento desses belos insetos. Em alguns pontos, com olhar atento, é possível avistar ovos em folhas, larvas (lagartas) nos corrimãos e pupas (casulos) nas plantas, ou seja, todas as etapas antes da transformação até a fase adulta.

O comportamento das borboletas e suas cores são tão peculiares que elas ganharam papel importante no imaginário infantil, na literatura e na poesia. Certa vez Rubem Alves definiu o amadurecimento humano: “não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metaformoses”.

Da ordem Lepidoptera, e classificadas nas superfamílias Hesperioidea e Papilionoidea, as borboletas e mariposas, esses insetos “mágicos”, dóceis e, muitas vezes, cintilantes, fazem parte da paisagem do percurso pelas trilhas no PEI. Muitas pousam nos visitantes dependendo da cor que estiverem usando. Aparentemente, preferem as roupas claras.

Seja no início da passarela, próximo ao primeiro lago, perto do bondinho ou, principalmente, e em maior quantidade, na entrada da Trilha Sensorial, por causa das flores e frutas – já que são nectarívoras e frugívoras − elas fazem um espetáculo nos dias de sol.

De acordo com Fabiana Casarin, professora do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, “embora muitas borboletas e mariposas adultas sejam admiradas e valorizadas pela riqueza de cores e formas, as lagartas alimentam-se de plantas e causam mais destruição e prejuízos que qual­quer outro grupo de insetos. Porém, elas possuem grande importância, pois muitas são polinizadoras de variados vegetais e espécies-chave para a manutenção do equilíbrio ecológico nos ecossistemas”.

Os especialistas dizem que a presença das borboletas funciona como um bioindicador de um ecossistema equilibrado. No PEI, elas aparecem em boa frequência e com uma população razoável, sinal de que a área está em ótimo estado de recuperação, explica Bruno Barbanti, biólogo do parque.

Entre os vários papéis de importância que as borboletas desempenham nas interações ecológicas os mais conhecidos são a polinização e a herbivoria, explica Casarin. No primeiro, o ganho mútuo dos organismos envolvidos é direto: enquanto um recebe recursos alimentares, o outro tem a possibilidade da reprodução sexuada e cruzada. No último (herbivoria – quando se alimentam das folhas), as larvas têm um papel estruturador nas comunidades vegetais, pois além de aumentarem a ciclagem de nutrientes no sistema, abrem espaço para outras plantas crescerem e influenciam na sucessão ecológica em bordas, clareiras e matas secundárias, ressalta a pesquisadora.

Outro aspecto conhecido e bastante curioso são as estratégias de defesa desses insetos para se safarem do ataque de predadores. Nesse contexto, muitas lagartas se disfarçam de elementos presentes no ambiente como sementes, galhas foliares, folhas, cascas, grama, gravetos e outros. Já as mariposas, em sua maioria, têm nas asas desenhos semelhantes a olhos. Quando ameaçadas, mostram os ‘falsos olhos’ que imitam a cabeça de um animal maior que pode parecer uma coruja, por exemplo.

Os especialistas e profissionais que atuam no PEI deram início a um trabalho de classificação taxonômica das espécies de borboletas que ocorrem nas diferentes épocas do ano na região. Em média, o ciclo de vida delas é de 20 dias e representam a segunda maior diversidade de espécie do planeta. Os adultos das borboletas voam durante o dia, em busca de alimento e de parceiros para o acasalamento, enquanto os adultos das mariposas têm em geral atividade notur­na.

Um estudo do biólogo André Lucci Freitas, professor do Departamento de Biologia Animal da Unicamp, concluiu que as borboletas surgiram há 100 milhões de anos. Hoje, na natureza, segundo Casarin, a ordem Lepidoptera (mariposas e borboletas) é a segunda mais diversa e conta com aproximadamente 160.000 espécies distribuídas em 43 superfamílias e 139 famílias atuais. As borboletas possuem apenas 6 famílias, totalizando cerca de 19.000 espécies, aproximadamente 11% da diversidade da ordem. Só no Estado de São Paulo e na região de Mata Atlântica, onde fica o PEI, são cerca de 2100 espécies.