Hans Staden, além da antropofagia, apresentou ao mundo a Mata Atlântica
Litografia de Edward Walter, sem data
Hans Staden, ilustração autoria desconhecida
Por um longo período da história do Brasil, após a chegada dos europeus, a vida por aqui se deu em meio à Floresta Atlântica, principalmente nas regiões litorâneas do nordeste, sul e sudeste. Em regiões como as do Parque Ecológico Imigrantes (PEI), o convívio entre o homem e a exuberância da fauna e flora, somada aos costumes das populações indígenas, gerou uma cultura que iria impactar e mudar de forma determinante a literatura mundial.
Aos poucos foram surgindo histórias de exploradores, navegadores e aventureiros que voltavam para o velho continente contando como era a “vida no paraíso”. Toda essa efervescência de novas ideias impulsionaria movimentos sociais, econômicos e filosóficos importantes, entre eles, o renascimento.
Uma das obras mais importantes da história brasileira teve como local dos acontecimentos a região onde está o PEI, ou seja, às bordas da serra do mar e o litoral paulista. Trata-se da história contada por um aventureiro alemão chamado Hans Staden, que veio ao Brasil duas vezes, a última no ano de 1550, quando chegou em um navio espanhol.
Essa viagem, com detalhes sobre tudo que vivera Staden na Mata Atlântica, ainda virgem, foi narrada por ele mesmo (já que era analfabeto) quando voltou à Europa, em 1557. O responsável por transcrever o seu relato foi o escritor Andres Colben, em Marburgo, na Alemanha. O texto deu origem ao livro “Duas viagens ao Brasil” (O título original era muito mais extenso). A obra literária chocou o mundo. O impacto desse relato e as ilustrações foram tão grandes na Europa que esse pode ser considerado um dos primeiros best sellers da história.
No livro, Staden conta que quando chegou na chamada capitânia de São Vicente foi imediatamente preso pelo governador Tomé de Sousa. Depois de liberto, com a condição de se tornar parte da guarda militar portuguesa e tomar conta do Forte de São Felipe, em Bertioga, acabou sendo capturado por indígenas da tribo Tamoio, onde, mais uma vez como prisioneiro nessas terras, presenciou rituais antropofágicos indígenas onde por pouco não foi devorado.
Além do canibalismo das tribos indígenas brasileiras, que depois inspiraria todo movimento das artes chamado de modernismo, e que tem como uma das obras mais importantes, Macunaíma, de Mário de Andrade, o livro “Duas viagens ao Brasil” é também o relato de alguém que sobreviveu para relatar ao mundo as paisagens virgens e riquezas, ainda naquela época, inexploradas de um paraíso chamado Mata Atlântica, ao qual a Europa teria ficado deslumbrada. Segundo historiadores, o personagem viveu em uma faixa de litoral que hoje vai de Santos, passando por São Vicente, Bertioga até chegar em Ubatuba.
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