
O papel do PEI no esforço pela diminuição do aquecimento global e no enfrentamento das mudanças climáticas
O Parque Ecológico Imigrantes é reconhecido por especialistas e visitantes como um oásis em meio a mais populosa região cosmopolita do continente, com cerca de 20 milhões de pessoas e com poucas áreas verdes. Mas quais os reais benefícios para o clima da metrópole trazidos por uma área como essa com 484 mil km² de Mata Atlântica?
A Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em 1997, na cidade de Kyoto, no Japão, estabeleceu uma série de compromissos entre os países para a redução da emissão dos gases de efeito estufa, aquecimento global e mudanças climáticas. Além disso, criou parâmetros para medir o chamado sequestro de carbono promovido pelas florestas. Essas medidas são essenciais para nos ajudar a entender a importância de parques como o PEI e de outras áreas verdes na manutenção da qualidade de vida grandes cidades.
Para esclarecer essas questões e falar sobre qualidade de vida para as futuras gerações, entrevistamos o agrônomo e especialista em sustentabilidade, José Carlos Pedreira de Freitas. Confira na entrevista!
Qual a importância da área do PEI, com cerca de 484 mil m², que está em pleno processo de reconstrução para a retenção de CO2 da atmosfera?
O projeto do Parque Ecológico Imigrantes tem duas dimensões a serem ressaltadas: o papel da conservação e preservação de um remanescente de Mata Atlântica. Esse processo envolve a restauração da mata nativa em diferentes categorias. É uma iniciativa importante do ponto de vista da preservação da biodiversidade, do clima, sobretudo a questão da água, que a floresta cumpre papel importante na regularização do regime de chuvas e na questão de mudanças climáticas, pelo papel que a floresta desempenha no sequestro de carbono.
Como funciona esse papel e como o parque pode reivindicar a questão do mercado de carbono?
Tudo nasce de uma característica muito própria dos vegetais que aprendemos na escola e é a fotossíntese. A forma como a planta respira, como a planta vive. As plantas, diferentemente dos seres humanos, retiram CO² da atmosfera e liberam oxigênio. Esse processo de fotossíntese, em relação a carbono, gera a propriedade que a gente chama de remoção de CO² da atmosfera. Então, se eu tenho uma atmosfera que está com excedente de concentração de gases de efeito estufa, entre os quais o CO², mas não só ele, por meio da fotossíntese as florestas removem o CO² da atmosfera e aprisionam no solo e na parte vegetal da planta. O CO² fica aprisionado, estocado, no fuste da árvore, no tronco, nas partes vegetais e no solo.
Isto é particularmente relevante em uma planta que está em processo de crescimento. Já que na fase adulta esse processo se consolidada, e o que as plantas sequestram de carbono elas emitem na forma de oxigênio e se torna um sistema em equilíbrio.
Como são os métodos para os créditos chegarem a ter valor de moeda e serem comercializados?
O PEI está transformando essa área em um removedor de CO² enquanto as árvores e plantas ali estão em processo de restauração e recuperação. Esse fato, conforme o Protocolo de Kyoto, pode ser medido ou contabilizado por meio de uma metodologia com critérios objetivos e gerar os créditos de redução de emissões. Ao neutralizar as emissões que existem no entorno o parque poderá oferecer ao mercado de carbono esses créditos que podem ser contraídos por países ou organizações privadas que não conseguiram reduzir as emissões.
Para se ter uma ideia, o estudo realizado no Parque Natural Municipal do Curió, em um remanescente de Mata Atlântica, em Paracambi, no Rio de Janeiro, pela Universidade Federal do Paraná, do Rio de Janeiro, Mato Grosso e a Estadual do Mato Grosso mostrou que um hectare de mata, em diferentes estágios de crescimento, é capaz de estocar 106,19 toneladas de carbono equivalente por ano. Sendo a árvore que apresentou maior poder de fixação do CO2 foi a chamada amarelo acende-candeia ou o amarelinho (Plathymenia reticulata Benth).
Esses números do estudo realizado no Parque Natural Municipal do Curió correspondem a um crédito passível de ser transacionado no mercado na medida em que países e organizações privadas assumem o compromisso de redução e transacionam entre si esses direitos.
Como foram os debates na COP25 sobre a regulamentação do mercado de carbono?
Esse debate nasce no protocolo de Kyoto que estabeleceu compromissos de redução de emissões, um mercado e uma metodologia para cumprir e poder oferecer o crédito de carbono. Como protocolo de Kyoto terminou, está até hoje em discussão entre países e organizações privadas a constituição de um novo protocolo. Essa nova discussão nasce no acordo de Paris – COP21 (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) que estabeleceu um conjunto de metas de redução de emissões. Dependendo do país, se estabelece um ano referencial em que os países assumem o compromisso de reduzirem as emissões de carbono. O Brasil tem este compromisso que termina em 2020 e estamos com a possibilidade concreta cumpri-lo.
Já na COP 25, na Espanha, o objetivo era estabelecer regras que regulariam as transações entre países e empresas, mas um impasse entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos levou a discussão para ser travada em Glasgow, na Escócia, em 2020. Os países em desenvolvimento são os maiores interessados neste mercado, pois têm maiores possibilidades de oferecer os créditos de carbono, já que possuem mais áreas de florestas. Na prática, esses países precisarão ser reembolsados pelos países desenvolvidos que geram muito mais emissões oriundas de combustíveis fósseis e outras fontes emissoras de gases de efeito estufa.
Qual a importância da Greta Thunberg para a educação ambiental e a luta pela preservação ambiental?
A Greta representa a nova geração que será diretamente impactada pelos efeitos da nossa ação ou da nossa omissão em relação ao tema das mudanças climáticas. Nós não seremos impactados ainda que já estejam ocorrendo fenômenos extremos, como excesso de temperatura, enchentes e secas. A frequência constante que os extremos climáticos acontecem são reflexos das mudanças climáticas em curso. E essas novas gerações serão as mais impactadas. Precisamos voltar a nossa atenção para essas gerações, pois são eles que poderão mobilizar a sociedade, governos e empresas a tomarem as medidas necessárias pensando no futuro.
Como o Sr vê o papel do agronegócio brasileiro hoje na preservação das florestas?
Existem dois ativos representados pelo agro brasileiro. O primeiro vem do fato de que temos um enorme patrimônio ambiental preservado e conservado. Um país que tem 67% do seu território destinado à conservação, que usa para agricultura em torno de 10% do território e para pecuária 23%, incluindo as áreas de pastagens degradadas, é um país com um patrimônio natural muito representativo. Outro dado que impressiona, é o fato de que 24% das áreas do Brasil destinadas à conservação estão dentro das propriedades rurais na forma de Reservas Legais ou em Áreas de Preservação Permanente, mantidas pelo proprietário rural. Este é um lado da equação do Brasil como potência agroambiental, que é um agronegócio tropical.
No mundo desenvolvido a agricultura e pecuária são realizadas no clima temperado. Aqui tivemos que desenvolver nos últimos 40 ou 50 anos a nossa tecnologia de agricultura e pecuária tropical, que por suas características gerou uma qualidade, que não existe nas tecnologias dos demais países, os modelos de produção low cabone intensive. Na pecuária brasileira, se de um lado existem as emissões dos animais, chamadas emissões entéricas, muito presente na pecuária mundial, por outro lado o nosso boi é engordado a pasto e não em confinamento. Esse modelo de produção pecuária traz como característica o fato de que o pasto também realiza o sequestro de carbono. Na medida em que trabalhamos uma pastagem degradada e a intensificamos, com reforma, restauro, aumentamos a sua capacidade de remover carbono da atmosfera.
O boi criado a pasto tem as emissões entéricas dos animais neutralizadas pela remoção de carbono das pastagens. Isto gera o atributo de carne baixo carbono ou carne carbono neutro, cujo os protocolos estão sendo desenvolvidos pela Embrapa e os selos estão sendo lançados nesse exato momento. Teremos em breve no mercado brasileiro e internacional a carne brasileira com o selo de baixo carbono ou carbono neutro.
Além disso, o agronegócio brasileiro possui inúmeras tecnologias de integração lavoura-pecuária; o uso de inoculantes onde são inseridas bactérias em leguminosas para evitar o uso de adubação nitrogenada e a emissão de nitratos; o plantio direto na palha, onde se pode plantar sem arar; isso tudo representa menos carbono lançado na atmosfera.
< Voltar