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Conheça o estrato da floresta do Parque Ecológico Imigrantes chamado dossel

Cada espécie de árvore possui uma forma de crescimento específica e uma capacidade única de atingir determinadas faixas de alturas. Ao entender esse processo a ciência estratificou os conjuntos de espécies de árvores que atingem determinados patamares para estudá-los de forma delimitada. Uma dessas faixas e a que se faz mais presente no Parque Ecológico Imigrantes (PEI) é o chamado estrato arbóreo médio, teto ou dossel, que alcança de 20 a 30 metros de altura.

A fauna presente nos dosséis é uma das mais ricas de todos os ecossistemas. Para ser ter ideia, na Mata Atlântica, é possível encontrar nas alturas uma população de animais como macacos, insetos, sapos, lagartos, pássaros, cobras, preguiças e felinos de pequeno porte.

De acordo com o entomólogo Dalton de Souza Amorim, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da Universidade de São Paulo (USP), “a ciência ainda sabe muito pouco sobre a biodiversidade do dossel das florestas, tanto das florestas tropicais, quanto das florestas temperadas”.

Ainda que o caráter único da fauna de insetos de dossel seja conhecido há mais de um século, a questão do acesso ao dossel sempre foi um impedimento para um estudo sistemático dessa porção (gigantesca) da biodiversidade das florestas, explica Amorim. As florestas mais antigas possuem o chamado estrato arbóreo superior que pode ultrapassar os 40 m de altura.

Sobre as coletas no dossel da Mata Atlântica, o professor Amorim conta que o seu grupo e do Dr. Alexandre Antonelli, fundador da RPPN Alto da Figueira, em Macaé de Cima (Nova Friburgo, RJ), começaram a trabalhar em janeiro de 2024 em um projeto na região. “Fizemos um primeiro esforço para identificar o material coletado nessas amostras em outubro do ano passado e os resultados são igualmente impressionantes”, ressalta.

Os dosséis guardam a chamada biodiversidade vertical. Com a presença de minúsculas criaturas que vivem bem acima do solo. Existe neste “andar”, se pensarmos a floresta como um edifício, com vários patamares, uma diversidade de insetos onde muitos não foram ainda se quer descritos pela ciência.

Segundo Amorim, alguns grupos extremamente raros nas coletas ao nível do solo se mostram bem representados nas amostras do dossel e já há casos do primeiro registro de subfamílias para a Mata Atlântica. Há um grupo grande de especialistas em diferentes grupos de insetos muito interessado nesse projeto. Nos próximos anos, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Instituto de Biologia da UFRJ devem assumir a liderança do estudo dessa área.

Amorim também coordena um projeto nos dosséis de uma região amazônica próxima a Manaus. Trata-se de um estudo inédito que descobriu que 60% dos exemplares de insetos vivem acima dos 8 metros de altura. O pesquisador coletou 38 mil insetos, sendo que 61% das espécies nunca apareceram em amostras do solo.

O projeto mostra a complexidade da fauna e da flora. Para a coleta das amostras, o grupo instalou cinco armadilhas de interceptação de voo no mesmo eixo vertical na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, do Inpa– uma torre de mais de 50 metros de altura em uma região de floresta delimitada para estudos científicos. A mais alta estava localizada a 32 metros do chão. A cada duas semanas as amostras eram retiradas das redes.

Dossel – Ilustração VGR

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