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Livro mergulha na formação dos ciclos econômicos que moldaram os impactos nas florestas brasileiras

“Formação do Brasil Contemporâneo”, de Caio Prado Junior, é uma obra prima da literatura brasileira para quem quer entender a origem da formação do sistema econômico brasileiro e como esse processo culminou, entre outros aspectos, por quase destruir por completo um dos mais ricos, vastos e diversos biomas brasileiros, a Mata Atlântica.

Um livro que nos explica como as florestas brasileiras foram afetadas por inúmeros ciclos econômicos. Desde a chegada dos primeiros exploradores europeus, passando pelos processos das correntes de povoamento, trabalho escravo, pecuária, ciclos do café e cana de açúcar, mineração e indústria.

Nesse reencontro com o Brasil, que é a leitura de Formação do Brasil Contemporâneo, de forma indireta, o autor nos mostra como a Mata Atlântica foi cenário e matéria-prima em disputas que vieram a se tornar a estrutura material da economia brasileira que conhecemos hoje.

Segundo Prado Junior, o problema da ocupação do território no primeiro momento tinha a ver com “a natureza dos gêneros aproveitáveis”, ou seja, de que forma seriam atrativas as madeiras da floresta que se tornariam materiais de construção ou tintoriais, como o caso do Pau-Brasil. Além de saber como seriam aproveitados, caso existissem, os recursos minerais disponíveis. A ideia dos portugueses era estimular o “extrativismo de produtos espontâneos”.

À época, esses processos econômicos, onde as florestas e os solos brasileiros foram explorados, aconteceram sem o menor ressentimento. Não existia a ideia ou conceito de preservação ambiental. Árvores foram derrubadas ou queimadas em grandes áreas para o estabelecimento de colonos ou escravos. A floresta veio abaixo para a extração do Pau-Brasil ou para a plantação de cana de açúcar no Sudeste mas, sobretudo, na zona da mata nordestina, entre os anos de 1530 e 1560.

Depois, no século XVIII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais a busca pelo metal e pedras preciosas fez a população brasileira crescer mais de dez vezes em tamanho. O tráfico escravagista se intensificou, pois os portugueses não dominavam a mineração. O problema é que os escravos precisavam se alimentar e ter força para buscar as riquezas minerais.

A partir dessa demanda, nasce a pecuária brasileira. Ou seja, onde havia uma mina de ouro era necessário criar uma fazenda de gado. A carne alimentava os trabalhadores e assim se derrubava a floresta (ou se derruba até hoje) para trazer bois, vacas e cavalos para as pastagens.

O ciclo econômico do café também deixou marcas profundas na Mata Atlântica. O período que durou mais de cem anos, entre 1800 e 1930, se manteve como a principal atividade econômica do Brasil. O período recebeu esse título porque o café era um produto fundamental de exportação. O cultivo do café foi um dos fatores que contribuíram para a devastação da Mata Atlântica, em especial na região do Vale do Paraíba, em São Paulo. Esse período levou ao desmatamento de grandes áreas de floresta para dar lugar às plantações de café.

Outros fatores que corroboraram para a devastação da Mata Atlântica foram a exploração da madeira para produção de carvão vegetal e celulose; e o avanço da urbanização e a criação das grandes cidades, como São Paulo, causada pela industrialização no final do século XIX e início do XX.

A obra de Prado Junior mostra como foram os contornos da história econômica brasileira que não incluíam, entre os pensamentos dos seus ideários, o conceito de sustentabilidade e de conservação da natureza. Ou seja, a ideia é que os atuais gestores do futuro incluam a preservação das florestas nos orçamentos para que tenhamos futuro para as próximas gerações.

Fotos:

Industrialização, VW Anchieta, 1959, divulgação.

Pau Brasil, autor desconhecido

Cana de açúcar, Benedito Calixto, c. 1900, dom. púb.

Ouro, Rugendas, c. 1930, dom. púb.

Seringueiro, Percy Lau, s/d

Café, Portinari, 1935, c.commons

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