
Povos originários da Mata Atlântica
Foto: site Tenonde_Porã
Encostado ao PEI, em São Bernardo do Campo, na região do pós-balsa, bairro Curucutu, residem duas aldeias indígenas, a Guarani Mbya: Tekoa Guyrapaju e Tekoa Kuaray Rexakã (Brilho do Sol). E, do outro lado de um dos braços da Represa Billings, quase na mesma direção, sentido divisa com bairro Parelheiros, em São Paulo, está a aldeia Tekoa Krukutu. Essas tribos residem na faixa de Terra Indígena Guarani Tenondé Porã (reconhecida pela Funai em abril de 2012), que tem cerca de 159,69km² e se estende por São Bernardo do Campo, São Paulo, São Vicente e Mongaguá. A região conta com sete aldeias com cerca de 1500 pessoas.
Segundo o Estudo Terras Indígenas na Mata Atlântica: pressões e ameaças, publicado em 2013 pela Comissão Pró-Índio de São Paulo, são 29 as terras indígenas no Estado de São Paulo com reconhecimento do governo e outras 16 ainda não reconhecidas. A maioria delas está situada no bioma da Mata Atlântica, um dos mais ameaçados do Planeta.
De acordo com Bruno Barbanti, biólogo do PEI, a preservação da cultura das populações tradicionais “é fundamental, pois esses povos possuem um conhecimento constituído em um processo de interação milenar com a natureza”. Apesar disso, grande parte das terras indígenas está ameaçada pela falta de demarcação. Menos de 30% dessas áreas estão demarcadas e homologadas de acordo com a Constituição Federal.
É importante que a sociedade conheça a realidade dessas comunidades para aumentar a corrente de solidariedade e proteção aos povos indígenas. Em 2013, uma nova tribo se formou em uma área mais afastada cerca de 20 minutos do Bairro Santa Cruz e 8 km da aldeia Krukutu. Chamada de aldeia Tekoa Kalipety, tinha infraestrutura precária, a água para consumo dos índios era retirada de um rio e a energia elétrica obtida por meio de ligações clandestinas. O local não contava com postos de saúde ou escolas.
O turismo, a crescente urbanização, obras de infraestrutura e a exploração mineral ilegal em terras indígenas aumentam a pressão e ameaçam a sobrevivência das populações tradicionais. No Parque Estadual no Pico do Jaraguá, na cidade de São Paulo, de maneira precária encontram-se instaladas nove tribos de índios Atawara, em área estimada de 492 hectares.
É imprescindível a preservação e o cuidado com as populações tradicionais. Os povos indígenas sempre tiveram uma relação profunda com o meio ambiente e desenvolveram o conhecimento por meio da tradição. “Os índios sempre viveram em harmonia com a natureza. Em populações limitadas, caçando e sobrevivendo da natureza, integrado realmente na cadeia trófica. Eles possuem uma interação que passa de pai para filho, de como caçar, tradições entre outros aspectos culturais”, explica Barbanti.
Os guaranis são tradicionais da região e circulam entre as aldeias por diversas trilhas por caminhos complexos que transitam entre o Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, território original.
Leia trecho sobre a história dos índios da região, retirado do site Terra Indígena Tenondé Porã (https://tenondepora.org.br/sobre/):
“O povo Guarani habita a região da Mata Atlântica meridional há milênios. Mas, nos últimos 500 anos, essa região, que para nós não tem fronteiras e que chamamos de Yvyrupa (leito ou plataforma terrestre) foi imensamente devastada pelos não indígenas, os jurua: aqueles que têm “cabelo na boca”.
Enquanto devastavam as matas, expulsavam, escravizavam e matavam nossos antepassados, os jurua também criaram várias fronteiras, de países e estados, em nosso território tradicional. Hoje, nossos parentes espalham-se em aldeias separadas por essas fronteiras, desde o estado do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, mas também na região noroeste da Argentina e na parte oriental do Paraguai.
Apesar dos Bandeirantes de São Paulo terem quase exterminado nossos antepassados que viviam na região, nós, seus descendentes, sobrevivemos. Muitas vezes fugindo e nos escondendo em matas inacessíveis mas, sempre que possível, voltamos para as aldeias que nossos avós conheciam, nas proximidades da Serra do Mar”.
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