
As mudanças climáticas e os Rios Voadores
Foto: divulgação
Estudadas pelo homem há séculos, as mudanças drásticas no clima, como o aumento do calor ou do frio ou a maior intensidade e frequência das chuvas e dos períodos de secas, não são fenômenos isolados e acontecem por uma série de circunstâncias físicas e ambientais. Para entender um pouco mais sobre o assunto fomos perguntar para a equipe de especialistas do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN/CNEN-SP), coordenada pelo professor Oscar Veja, que conta com o trabalho dos pesquisadores Caroline Ostermann e Elias Felipe.
Qual é o papel que exerce no clima uma área remanescente de Mata Atlântica como a do PEI? Como a Floresta Amazônica é importante para o Planeta? Como essas áreas de florestas influenciam o regime de chuvas, umidade e qualidade do ar?
É notório que as áreas remanescentes de Mata Atlântica, nas regiões próximas a São Paulo, não possuem mais a mesma capacidade de influenciar os regimes de chuvas como as de outras áreas mais preservadas, como as da Floresta Amazônica, por exemplo. Mas perguntamos aos cientistas qual é o papel dessas regiões para diminuir os períodos de secas e contribuir com o processo de manutenção dos níveis dos mananciais que abastecem com água a região Metropolitana de São Paulo.
Segundo a equipe de especialistas, a Mata Atlântica desempenha um papel fundamental na regulação do clima. Isso ocorre por meio de processos físicos e químicos na atmosfera, como os Compostos Orgânicos Voláteis Biogênicos (COV-Bs) produzidos pela vegetação durante crescimento, desenvolvimento, reprodução e defesa. Os COV-Bs também funcionam como meio de comunicação dentro das comunidades de plantas, entre plantas e entre plantas e insetos.
A alta reatividade química de muitos desses compostos e as grandes taxas de emissão de massa da vegetação para a atmosfera geram efeitos significativos na composição química e nas características físicas da atmosfera.
Como consequência, os COV-Bs medeiam a relação entre biosfera e atmosfera. No caso da Mata Atlântica, a alteração dessa relação é impulsionada no meio ambiente por mudanças antropogênicas, portanto, a perturbação dessas interações leva a consequências adversas e difíceis de prever para o sistema terrestre, resultando nas mudanças climáticas globais.
As mudanças climáticas já são sentidas nesta região, mas mesmo com pouca percentagem existente de Mata Atlântica, a mesma ainda contribui na manutenção dos níveis dos mananciais, efeito homeostase da natureza, mas o perigo é atingir o limite irreversível, isto seria uma seca irrecuperável.
Os Rios Voadores
De acordo com os pesquisadores os ecossistemas estão correlacionados por meio de correntes de ar. E a Mata Atlântica não foge a essa regra. O bioma da Mata Atlântica se interliga a outros biomas por meio de uma corrente de ar denominada Rios Voadores.
Embora invisíveis, os rios voadores são cursos d’água que circulam pela atmosfera. O vapor d’água gerado em grande quantidade pela Floresta Amazônica flui em direção à Cordilheira do Andes, que atua como uma enorme “parede” de quase 4.000 metros de altitude. Ao barrar essa quantidade de vapor d’água, a Cordilheira obriga parte desse vapor a se precipitar em forma de chuva ou neve.
Assim, as gotículas de água que não precipitam são rebatidas de volta para o continente no denominado fenômeno de Circulação de Walker − movimento da corrente de ar que vai de leste para oeste e fornece umidade para outras regiões do Brasil, como Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Ou seja, a Amazônia e a Mata Atlântica estão na Zona de Convergência Intertropical, que é um dos sistemas meteorológicos mais importantes em operação nos trópicos.
Essa circulação atua na transferência de calor e umidade dos níveis mais baixos da atmosfera até as regiões tropicais para o nível superior da troposfera e para médias latitudes, este fenômeno de manutenção do equilíbrio térmico global é chamado fenômeno de Circulação de Hadley.
Os cientistas concluem que, sem as chuvas advindas da Amazônia, haveria um processo de desertificação no sul do continente. A partir desses parâmetros, eles compreendem a importância dos COV-Bs e a influência climática. Nesse contexto, a Mata Atlântica contribui na recepção dos rios voadores, se beneficiando das chuvas desse sistema e contribuindo na manutenção da umidade e regulação da temperatura da região de São Paulo.
< Voltar