
Efeito pisca-pisca de espécie de borboletas que sobrevoam o parque é defesa de predadores
A parte mais elevada da passarela do Parque Ecológico Imigrantes é uma das áreas mais iluminadas da trilha. Além da beleza da vista para a Mata Atlântica, dali é possível flagrar, em meio ao verde das árvores, flashes de luzes que salpicam a paisagem. Trata-se do pisca-pisca gerado pelo brilho das asas das borboletas do gênero Morpho helenor, da cor azul-vivo, em contato com a luz do sol. Um espetáculo natural encantador e, ao mesmo tempo, intrigante.
Mas razão pelo qual esses flashes de luzes acontecem foi desvendada por um grupo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e publicado em um artigo na revista científica Ethology. O efeito do pisca-pisca é uma forma de defesa contra os predadores das Morpho helenor, em sua maioria os bem-te-vis e sabiás. A ideia da camuflagem é confundir a visão dos pássaros por meio do excesso de luz e ofuscar a visão de quem as persegue. É uma forma de desaparecer na luz do sol.
O trabalho científico intitulado “A relevância da coloração instantânea contra a predação aviária em uma borboleta Morpho: um experimento de campo em uma floresta tropical” foi orientado pelos biólogos André Freitas e Paulo Oliveira; e realizado pela bióloga Aline Vieira e Silva como tese de mestrado. O trabalho foi feito na Reserva Biológica da Serra do Japi, a cerca de 50 quilômetros a sudeste de Campinas.
É a primeira vez que o comportamento dessas borboletas foi seguido com esse olhar e testado em campo, com predadores reais. Os experimentos envolviam, entre outras questões, a delicadíssima tarefa de pintar as asas das borboletas tentando imitar o azul das Morpho.
A hipótese descrita pelos pesquisadores na tese é de que a coloração flash postula que animais coloridos de forma críptica, ou seja, oculta ou misteriosa, e que exibem repentinamente cores conspícuas (vibrantes e chamativas) durante os movimentos, geram confusão na visão dos seus predadores e assim os fazem se protegerem das possíveis capturas.
De acordo com André Freitas, “o efeito só ocorre se for com um tipo específico de voo. Existem outras espécies de Morpho azuis brilhantes que voam com as asas sempre abertas, mas nesse caso elas não se baseiam nesse efeito “pisca-pisca”.
A cor das asas dessas espécies é proveniente de minúsculas escamas com uma estrutura nanoscópica que espalha a luz de uma forma específica, refletindo sempre a mesma cor. O brilho varia conforme a incidência de luz e o ângulo do observador. Para conseguir o objetivo de reproduzir nas borboletas a cor exata, Aline Vieira usou tinta metálica azul e mediu o brilho com um espectrômetro.
Segundo Freitas, a pesquisa não notou como o “disfarce” se comporta em dias onde a luz do sol está mais fraca. “Em dias encobertos, borboletas em geral voam menos, pois dependem do calor do sol para se aquecerem. Assim, não tem como sabermos se existe alguma relação entre voo e a presença de mais ou menos sol. Quando pousam, fecham as asas e a cor marrom da parte inferior se camufla com a das folhas presentes no solo”.
De acordo com o resumo do trabalho, os experimentos de campo forneceram a primeira evidência, até onde se sabe, de que a coloração flash em borboletas Morpho azul-vivo trata-se de um mecanismo de defesa eficaz contra predadores aviários em uma floresta tropical.
Foto: Borboleta Morpho helenor – Share Alike
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