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Professores e alunos da Unifesp pesquisam a diversidade e abundância das espécies da serrapilheira

Quem nunca sentiu ao entrar em uma mata os pés afundarem e, ao mesmo tempo, ouviu o som das folhas se despedaçando? Essa sensação ocorre no momento em que entramos em contato com a serrapilheira, nome dado à camada formada pela deposição dos restos de plantas (folhas, ramos) e acúmulo de material orgânico vivo em diferentes estágios de decomposição que revestem superficialmente o solo. Para conhecer mais sobre o assunto conversamos com a equipe da Coordenadora do Inventário Insetos da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, Campus Diadema, a Professora Doutora Fabiana Casarin, que nos concedeu uma entrevista com apoio de professores e alunos. Leia abaixo:

1 – O que um estudo sobre serrapilheira do PEI pode revelar sobre o bioma do parque?

A serrapilheira constitui um importante compartimento florestal, local onde se deposita o material orgânico proveniente dos animais e das plantas, sendo a principal responsável pela ciclagem dos nutrientes. Portanto, é a mais importante forma de retorno dos nutrientes ao solo das florestas.

 2 – Entre os aspectos do estudo é possível descrever como anda o ciclo de nutrientes da área?

O reconhecimento dos insetos que vivem na serrapilheira possibilita maior compreensão dos processos que ocorrem no local de acordo com a função que os grupos desempenham. Há grupos chaves, como formigas e cupins que quebram macronutrientes, e o material não consumido e disponibilizado ao solo. Assim, conhecer a diversidade e abundância das espécies da serrapilheira, ajudam a diagnosticar a saúde do solo.

3 – Quais pistas a análise da fauna constituída de insetos local pode dar sobre a dinâmica e sazonalidade da região e os possíveis distúrbios naturais ou antrópicos?

Os insetos contribuem para o melhor entendimento sobre a dinâmica e sazonalidade de um local uma vez que seu desenvolvimento depende das condições ideais de temperatura e umidade. Florestas preservadas possuem um ambiente úmido e no período da primavera e verão, com aumento das temperaturas, os ovos e larvas de diversos insetos eclodem. O inventário desses grupos ativos nessa época do ano, juntamente com a análise da abundância e diversidade são bioindicadores de locais preservados. E a ausência de espécies ou predominância de certos táxons (unidade taxonômica associada à classificação científica de seres vivos) podem apontar para distúrbios, sejam naturais ou antrópicos, uma vez que dependem das condições abióticas (desprovido de vida) para seu desenvolvimento e contam com um aparato sensível de percepção ao ambiente.

4 – Qual a importância para as pessoas que possuem jardins ou áreas maiores de terra com plantas e árvores, em cuidar dos restos vegetais e animais em decomposição que revestem o solo?

O processo de decomposição é indispensável no meio ambiente, pois permite que os nutrientes sejam ciclados e importantes componentes químicos (como o Carbono e o Nitrogênio, por exemplo) retornem ao solo para nutrir as plantas e árvores. Esse processo é realizado primeiro pela macrofauna, representada pelos insetos maiores como formigas, cupins e outros invertebrados como miriápodes e minhocas; depois há uma mesofauna (como ácaros, cupins); e depois a microfauna (fungos, bactérias) que recebe o material mais decomposto possível para liberar ao solo seus componentes químicos (ciclo do nitrogênio) Assim, esses decompositores permitem que todos os nutrientes sejam aproveitados ao longo de toda a cadeia alimentar, sendo imprescindível manter os restos vegetais e de animais em decomposição para a manutenção da saúde das plantas de seus jardins e terrenos.

5 – Quais são as principais funções das aranhas para os ecossistemas?

As aranhas são predadoras de insetos, que em sua maioria são consumidores de vegetais da floresta, sem as aranhas o número de insetos aumentaria muito, o que poderia comprometer a floresta como um todo.

 6 – Qual é o papel da preservação de uma área de Mata Atlântica como a do PEI na proteção de espécies de aranhas?

Existe uma enorme quantidade de espécies de aranhas que são endêmicas de Mata Atlântica, ou seja, só existem nessa região. Conforme o habitat dessas aranhas vai sendo destruído, essas espécies somem para sempre. Inclusive espécies que ainda não conhecemos, que podem produzir substâncias importantes no veneno, como antibióticos, anti-inflamatórios entre outros.

7 – Como as espécies de aranha têm contribuído para as pesquisas na área de desenvolvimento de fármacos para tratamento de doenças?

Existem diversas patentes de fármacos desenvolvidas a partir do veneno de aranha pelo mundo, alguns exemplos seriam drogas para o tratamento de câncer e epilepsia a partir do veneno de aranhas do gênero Triconephila; o tratamento de câncer de mama com veneno de espécies de Lycosa, que é a famosa aranha de jardim; e analgésicos a partir do veneno de caranguejeiras. Inclusive está sendo desenvolvido um remédio 100% brasileiro para impotência a partir de uma substância encontrada no veneno de armadeira. Além de diversos tipos de inseticidas.

Equipe de pesquisa da Unifesp, campus Diadema:

Coordenadora do inventário Aranhas: Profa. Dra. Cibele Bragagnolo

Professores colaboradores: Prof. Dr. Cristiano Feldens Schwertner; Prof. Dr. Thomas Püttker; Profa Dra. Michelle Manfrini e Prof. Dr. André do Amaral Nogueira

Alunos de mestrado: Stefan Ribeiro Dias e Juliana Abud Quagliano

Alunos de graduação em Ciências Biológicas da Unifesp: Luana Camargo Matos, Mariana Carolina Almeida Saiz, Marcello Caldeira Teles Batista e Willian Souza Lima.

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