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Um parque-museu a céu aberto

Gravura em preto e branco do livro Voyage Pittoresque et historique au Brésil de Par J. B. Debret, de 1834

Imagine uma floresta tropical exuberante. Um milhão de quilômetros quadrados quase que intactos. Onde por milhares de anos se formou a zona biogeográfica mais rica em biodiversidade do mundo. Esse cenário foi o encontrado pelos europeus no ano de 1500 ao chegarem ao Brasil. E pelo qual os exploradores se valeram dos caminhos previamente abertos pelos povos originários, os peabirus, para alcançar o planalto e avistar áreas como as do Parque Ecológico Imigrantes (PEI), que podem ter sido um dos pontos de partida no planalto para início da exploração do interior do país.

De acordo com Reinaldo Macabel, monitor do PEI, “toda a região do Riacho Grande, na cidade de São Bernardo do Campo, onde está o Parque Ecológico Imigrantes, foi caminho para os primeiros exploradores europeus que se atreveram a romper os paredões de montanhas da Serra do Mar Paulista”. Eles cortavam a chamadacaá-eté (mata densa ou virgem em tupi), nome dado pelos indígenas à Mata Atlântica. Os povos andinos chamavam a região de Pindorama (Terra das Palmeiras).

Gravura em preto e branco do livro Voyage Pittoresque et historique au Brésil de Par J. B. Debret, de 1834

Quando olhamos para a vegetação do PEI vemos a história natural disposta como em um museu. Suas matas provavelmente serviram de morada para populações antigas caçadoras-coletoras que evoluíram ao longo dos anos explorando a fauna, flora e pesca para subsistência. Os sambaquis no litoral dão uma amostra da densidade dos grupos humanos que viveram na região antes dos povos considerados hoje como originários.

O entorno ainda hoje é morada de algumas pequenas tribos indígenas. O bioma mais diverso do planeta já foi um cobertor verde por onde circulavam cerca de cinco milhões de pessoas. Indígenas distribuídos em mais de 200 grupos étnicos e com uma diversidade de mais de 170 línguas.

A floresta Atlântica constitui um dos principais biomas da história natural brasileira. Assim como área vegetal do PEI, a diversidade da floresta foi sendo moldada por meio de processos naturais de dispersão de sementes realizado pela fauna e flora, mas também pela ação milenar e direta dos povos originários que ajudaram a multiplicar milhares de espécies de plantas e que hoje formam um dos jardins naturais mais espetaculares da Terra.

Com isso podemos considerar o PEI um museu natural a céu aberto. Dedicado a mostrar aos jovens, por meio da floresta viva, como essa exuberância chegou até aqui. Mas, se fizermos um inventário da Mata Atlântica, levando em consideração o que ela era, antes da chegada dos europeus − sua diversidade, complexidade e originalidade − e compararmos com o que é hoje, teremos a ideia da tragédia ambiental que ocorreu nesse país ao longo da história.

Formação dos primeiros caminhos, vilas e SBC

O caminho do Mar ou a chamada Trilha dos Tupiniquins, caminho de Paranapiacaba ou de Piaçaguera foi a mais antiga ligação entre o litoral e a vila de São Paulo de Piratininga, durante o período colonial. Tinha início na vila de São Vicente, atravessava uma área alagada (hoje Cubatão) e prosseguia pela Serra do Mar até as nascentes do Rio Tamanduateí (no atual município de Mauá). Assim chegava ao Córrego Anhangabaú, na aldeia do índio Tibiriçá, em Piratininga (atual Pátio do Colégio, no centro histórico de São Paulo). A Serra do Mar e o planalto paulista foram cortados por distintos caminhos indígenas e posteriormente pela Calçada do Lorena, Estrada da Maioridade/Vergueiro/Caminho do Sal e do Mar, Anchieta e Imigrantes, onde está o PEI.

Ferrovia São Paulo Railway Ponte da Grota Funda Foto de Marc Ferrez Fonte: Brasiliana Fotográfica

Na atualidade, a Calçada do Lorena é o caminho mais famoso. O local passou por um processo de restauração de seus pontos históricos como o Rancho da Maioridade. A chamada calçada tem cerca de 3,5 km e foi pavimentada em pedras em 1792. Ela corta a Estrada Caminho do Mar em 3 trechos e liga o planalto ao litoral paulista. Rota por onde passavam mercadorias no período colonial e por onde dom Pedro I passou para proclamar a Independência do Brasil, em 1822.

A colonização europeia dessa região começa com Antonio Rodrigues, João Ramalho e Mestre Cosme Fernandes, o ‘Bacharel’, que foram os primeiros portugueses a viver em São Vicente. Provavelmente eles eram tripulantes da armada de Francisco de Almeida e desembarcaram aqui em 1493.

João Ramalho foi um dos primeiros desbravadores europeus a se arriscar na então ainda desconhecida pelos europeus Serra do Mar. Ele teve ótimo relacionamento com os indígenas da região e chegou a formar um importante agrupamento de pessoas em volta de si. Era casado com a índia Bartira, filha do poderoso Cacique Tibiriçá.

Ramalho fundou, em 8 de abril 1553, a Vila de Santo André da Borda do Campo onde foi nomeado Alcaide (cargo semelhante ao de Prefeito). Data essa que é contada como nascimento da cidade de São Bernardo do Campo. Não se sabe o local exato dessa vila, apenas que ela foi extinta em 1560 após o Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, ordenar a transferência do povoado para as imediações do Colégio de Jesuítas que deu origem à cidade de São Paulo.

De acordo com o portal da Prefeitura de SBC, a cidade foi formada anos depois, por lavradores e criadores de gado que ocupavam as terras chamadas de Borda do Campo. Região vinculada à Vila de São Paulo e cortada pelo caminho de Santos. Em 1637, dessas terras foi doada uma sesmaria por Miguel Aires Maldonado aos monges beneditinos. Áreas essas que haviam sido herdadas por Maldonado do seu sogro Amador de Medeiros.

A ocupação pelos monges das terras doadas só se daria em princípios do século XVIII, quando lá instalaram uma fazenda, cuja sede ficava entre o Ribeirão dos Meninos e o antigo caminho de mar, próxima ao local onde hoje se encontra a confluência das avenidas Vergueiro e Kennedy. Ali, em 1717, o Abade Frei Bartolomeu da Conceição ordenara a construção de uma capela dedicada a São Bernardo. A fazenda dos monges emprestaria o nome à região, que passaria a ser conhecida como bairro de São Bernardo.

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