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Preservar para não repetir a história

Fábrica da Volks em 1957, ano de sua inauguração. Fonte Sindicato dos Metalurgicos do ABC

A Mata Atlântica do PEI e de toda a região do Grande ABC paulista sofreu, ao longo dos anos, processos de devastação por causa da ação predatória humana. Uma delas e, talvez a mais importante, ocorreu a partir da década de 50 com o êxodo rural, que consistiu na migração em massa da população do campo para as cidades. Fotos aéreas do parque das décadas 1960, 70 e 80 mostram o tamanho do impacto produzido em uma das florestas mais ricas em biodiversidade do mundo. Boa parte do local se tornou um descampado. Uma triste memória que reforça ainda mais a importância de o PEI ser hoje um museu natural.

Represa Billings, 1988. Foto: Mário Ishimoto

Outro fator importante para o desmatamento da região foi a construção da Represa Billings, lembra o monitor do parque Reinaldo Macabel. O objetivo na época era aumentar a capacidade de geração de energia da Usina Henry Borden, em Cubatão, e atender a demanda crescente por energia elétrica do polo industrial próximo ao Porto de Santos. Sua construção teve início em 1925 e término em 1927.

“Esse processo acontece em grande parte com a chegada dos imigrantes europeus em 1920, na região do Riacho Grande. E a ocupação de São Bernardo do Campo segue de maneira desrespeitosa em relação à Mata Atlântica. Além da geração de energia, a represa passa a ser utilizada para o abastecimento de água onde foram instaladas, anos depois, as indústrias automobilísticas. Assim ocorre um intenso processo de urbanização e de desmatamento para a criação de bairros que seriam a moradia dos trabalhadores das indústrias do Grande ABC”, explica Macabel.

Fábrica de móveis e cadeiras Cassetari, década de 1920. Fonte: prefeitura de SBC

Entre 1900 e 1950, a população do Sudeste do Brasil cresceu de cerca de 7 milhões para 22 milhões. A agricultura era praticada com a queimada da floresta primária seguida por pastagem de gado. A população exercia pressão cada vez mais intensa sobre a floresta, para usos domésticos, industriais, recreação e transporte.

Para se ter uma ideia do tamanho do impacto da agricultura e, depois, a industrialização, o censo agrícola de São Paulo, em 1950, registrou apenas 27.705 km2 de floresta. Ou seja, de 1920 a 1934, o Brasil testemunhou a mais rápida destruição de floresta que se tem notícia: 3 mil km2 por ano. A Mata Atlântica que cobria 85% do Estado de SP em 1920 estava reduzida a 18% na metade do século XX.

Em 1920, cerca de 30% dos motores fixos da indústria paulista eram a vapor e a maioria acionada a lenha. De acordo com Warren Dean, no livro “A ferro e fogo, a história da devastação da Mata Atlântica”, a Segunda Guerra Mundial gerou uma intensa crise internacional no suprimento de lenha. O carvão e o petróleo importados foram racionados. Com a escassez de combustíveis fósseis, a indústria brasileira que data do final do século XIX e início do XX dependia do seu estoque de recursos vegetais nativos para ter combustível.

Calculava-se que um hectare médio de floresta primária contenha 400 m3 de madeira disponível para combustível. Sendo assim, os recursos combustíveis da Mata Atlântica na virada do século equivaliam a mais de 6,2 bilhões de toneladas de carvão. Além disso, ainda existia a demanda por lenha de consumo doméstico e quase toda ela vinha de florestas nativas.

Dean explica que os fabricantes de carvão comercial, ao contrário dos catadores domésticos de lenha, preferiam a floresta primária porque ali se encontravam as árvores de lenha mais densa, que propiciavam os rendimentos mais elevados e o carvão mais rico em carbono.

Os consumidores industriais tradicionais de lenha eram fabricantes de tijolos, telha, cal, cervejarias, destilarias, engenhos, refinarias de açúcar, fábricas de curtumes, tinturarias, torrefações de café, padarias, fábricas de sabão, velas, conservas, fósforos, cerâmica, banha, vidro e chapéus.

Nas décadas de 50, 60 e 70, em São Paulo, o setor metalúrgico estava em crescimento. Embora alguns fornos fossem elétricos, a maioria necessitava de cargas de lenha, que eram obtidas da Mata Atlântica. A madeira alimentava fornos, forjas, laminadoras, britadeiras, caldeirarias e fundições, além das ferrarias tradicionais. Também alimentava motores a vapor que forneciam energia em muitas fábricas, bem como uma pequena fração de energia elétrica.

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