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A floresta e a farmácia

Um passeio pela biodiversidade do PEI

Foi no século XVI, na Espanha e na França, que a chamada farmácia moderna ganhou impulso com a pesquisa sistemática dos princípios ativos das plantas e dos minerais capazes de curar doenças. Mas, bem antes disso, no século II, os árabes já haviam fundado a primeira escola de farmácia de que se tem notícia. Seja na origem das drogas asiáticas, nascidas principalmente na China, passando pela tradição árabe e europeia, os boticários, apotecários, ou como são conhecidos hoje, farmacêuticos, vêm extraindo da natureza as soluções responsáveis por trazer saúde e longevidade à vida humana. Um simples passeio pela biodiversidade do PEI é capaz de mostrar como essa tradição secular nos ajuda a viver melhor nos dias atuais.

Muitos dos boticários eram exímios conhecedores da geografia vegetal exata de plantas como aljôfar, aloés, bálsamo, canela, cânfora, carpobálsamo, incenso, mirra, ópio, entre outros. Algumas dessas espécies – a maioria não nativas – podem ser encontradas nas florestas brasileiras, inclusive na Mata Atlântica e no PEI. Apesar de o homem deter conhecimento sobre a natureza há bastante tempo, a caracterização dos princípios ativos e das estruturas moleculares de produtos vegetais, minerais e animais só seriam conhecidos por meio da farmácia moderna com equipamentos e laboratórios com avançada tecnologia.

De acordo com a farmacêutica e professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), Claudiana Lameu, “a preservação da biodiversidade é importante por vários motivos, entre eles, para a manutenção da fauna e flora que funcionam como um laboratório excepcional de síntese orgânica, fruto de milhões de anos de evolução e adaptação sobre a Terra. Esses locais, como a Mata Atlântica, produzem moléculas de alta complexidade, que são de difícil reprodutibilidade em laboratórios, são altamente específicas contra alvos moleculares e possuem elevado potencial terapêutico”.

Uma história pouco conhecida é a do medicamento mais utilizado no mundo para combater a hipertensão, que teve origem no Brasil e surgiu da análise de como o veneno da serpente jararaca (Bothrops jararaca) age na corrente sanguínea das presas.

Em 1949, o pesquisador brasileiro Maurício Rocha e Silva descobriu a bradicinina, uma substância importante para vários processos fisiológicos, inclusive regulação da pressão arterial. Na década de 1970, outro pesquisador brasileiro e aluno de Rocha e Silva, Sérgio Henrique Ferreira, isolou o princípio ativo capaz de intensificar o efeito da bradicinina, denominado FPB (Fator Potenciador da Bradicinina). O FBP foi a descoberta capaz de inibir os agentes naturais do organismo que elevam a pressão arterial e gerou um potente antihipertensivo, o Captopril, um medicamento utilizado em larga escala no mundo.

Hipócrates escreveu no século V a.C. sobre um pó amargo extraído da casca do Salgueiro-Branco (Salix Alba) que poderia aliviar dores e reduzir febres. Existem relatos históricos de outros povos, em diferentes períodos, sobre os efeitos analgésicos da Salix Alba no extrato ativo da casca chamado salicina. Esse composto foi isolado em sua forma cristalina em 1828, por Henri Leroux, um farmacêutico francês, e Raffaele Piria, um químico italiano, que conseguiu isolar o ácido em seu estado puro, dando origem a um derivado salicílico: a aspirina.

Quem conhece a Vinca (apocináceas), uma planta bastante popular presente nos jardins de boa parte das residências brasileiras, com flores brancas, rosas e vermelhas, não imagina que dela se retira um alcaloide antineoplásico, ou seja, um medicamento anticancerígeno, de efeito quimioterápico, chamado Vincristina. O sulfato de vincristina pode ser utilizado como quimioterapia combinada na leucemia linfoide aguda, Doença de Hodgkin, linfomas malignos não Hodgkin, rabdomiossarcoma, neuroblastoma e sarcoma osteogênico, entre outras.

Um dos exemplos mais conhecidos e antigos da farmacologia é o uso da papoula na produção da morfina, codeína, papaverina, tebaína, ópio e heroína. É curioso entender também como são produzidos a maioria dos antibióticos, obtidos a partir de microrganismos (fungos e bactérias) ou de moléculas com atividade antibacteriana ou antifúngica. Já a obtenção de medicamentos a partir de algas marinhas ocorre de forma semelhante à obtenção de medicamentos a partir de espécies vegetais. No entanto as estruturas químicas dos compostos ativos são diferentes.

Os medicamentos de origem animal e seus compostos biológicos são extraídos de órgãos e os fluidos ou tecidos são coletados, cortados, misturados e processados.

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