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Cuidado ambiental pode inibir novas pandemias

Quando se fala nos impactos ambientais causados por queimadas, desmatamento e poluição de rios, mares e florestas a maioria das pessoas tende a avaliar, de forma correta, que esses eventos contribuem para agravar o aquecimento global, as mudanças climáticas e escassez de água. Porém, existem outros aspectos de mesmo grau de importância onde o desequilíbrio ecológico pode afetar a saúde dos humanos e gerar graves crises sanitárias como a da Covid-19. Doenças que podem se proliferar, sem controle e tratamento, graças à má relação do homem com a natureza.

Um estudo feito pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) sob coordenação do ecólogo Jean Paul Metzger e da bióloga Paula Prist, do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação, avaliou o impacto da recomposição florestal sobre as populações de Oligoryzomys nigripes e Necromys lasiurus, duas espécies de roedores que hospedam o hantavírus, que causa a hantavirose − síndrome pulmonar – que pode ser fatal em grande parte dos casos em humanos, mas que os casos da doença ainda são pouco frequentes.

Publicada em agosto na revista Science of the Total Environment e divulgado pela Revista Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a pesquisa aponta que se a sociedade buscar manter o equilíbrio ambiental e recuperar áreas degradadas de florestas como a Mata Atlântica, podemos nos manter distantes de doenças. Para ter uma ideia, além da família dos coronavirus, composta por outros 14 tipos de vírus, existem na natureza uma quantidade incalculável de vírus, bactérias e parasitas que podem ser fatais para a vida humana.

De acordo com Bruno Barbanti, biológo e biomédico do Parque Ecológico Imigrantes, o ideal é que o ser humano se mantenha distante dos animais silvestres. “Muitos animais são vetores de doenças, que para os humanos são extremamente prejudiciais, mas para eles não causam impacto algum”, explica Barbanti. Quando o homem começa a desmatar e acabar com o habitat dos animais, cria-se a tendência de aproximação e o ser humano avança sobre o ambiente dos animais. Isso cria uma interface que gera transmissões de doenças como zoonoses, malária, Covid-19, zika, doença de Chagas e outras ainda não conhecidas.

“A Mata Atlântica é lar de uma quantidade enorme de roedores. Quando começamos a ter contato com essas espécies podemos ser infectados por doenças causadas pelo hantavírus e outras para as quais não temos defesa imunológica nem terapêutica (tratamento) específica”, ressalta. Os exemplos, segundo o especialista, são inúmeros. A Covid-19, sugerem os pesquisadores, ter sido originada no trato digestivo dos morcegos. A Aids pode ter tido origem nos primatas; e a malária e a doença de Chagas é comprovada a transmissão por insetos.

Existe também o caminho contrário, como o caso do aedes aegypt. Essa espécie de mosquito é tipicamente urbana, não existe na floresta e, no Brasil, é um organismo exótico. Tem esse nome por ter sido catalogado no Egito. Nesse caso, segundo Barbanti, quando há o desmatamento e o habitat dos mosquitos nativos é prejudicado, abre-se espaço para espécies como o aedes aegypt que invadem esses novos territórios. Como são “mosquitos urbanos” voltam para a cidade carregando doenças e causam, como tivemos recentemente, um surto como o da febre de zika, causada pelo zika vírus. Doença que, segundo médicos e pesquisadores, teve relação direta com casos de microcefalia em cidades do Nordeste brasileiro.

Muitas vezes os mosquitos e outros animais acabam sendo veículos para a transmissão de doenças. “Em um ambiente equilibrado o controle dos vetores ocorre de maneira natural. Por exemplo, existem os mosquitos mas há os predadores como no caso dos roedores, para o hantavírus”, esclarece Barbanti.

Segundo os pesquisadores, a recuperação de áreas degradadas de Mata Atlântica, como é o caso do Parque Ecológico Imigrantes, ajudam a reduzir de forma significativa as populações de roedores que transmitem o hantavírus, por exemplo. Isso atrairia as espécies predadoras e diminuiria a reprodução desses animais de forma descontrolada. De acordo com as estimativas do grupo de pesquisadores da USP, a restauração de áreas da Mata Atlântica causaria a diminuição das populações dos roedores em cerca de 45% de toda Mata Atlântica. O que beneficiaria até 2,8 milhões de pessoas.

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