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Plantas alimentícias geram oportunidades a comunidades carentes

Foto: Abacaxi selvagem, araçá amarelo, cambuci e bacupari (primeira linha)
e inhame de corda, jaracatiá, rabiu e taioba.

Criar uma cultura extrativista e de consumo sustentável de Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) pode ser uma forma de proporcionar renda e melhorar a qualidade de vida das populações carentes que vivem no entorno de áreas remanescentes de Mata Atlântica, como a do Parque Ecológico Imigrantes. A floresta é abundante em frutas, raízes e plantas que fazem parte de um cardápio rico em nutrientes. Com sabores, cores, cheiros e texturas que rementem a imagem da grande floresta encontrada pelos primeiros europeus a pisarem nas terras das regiões litorâneas brasileiras.

Uma das pesquisadoras brasileiras mais importantes nesse assunto é a bióloga Patrícia Medeiros, do Laboratório de Ecologia, Conservação e Evolução Biocultural da Universidade Federal de Alagoas (Leceb-Ufal). Ela desenvolveu um estudo sobre a popularização das Panc e as oportunidades que esse tipo de produto oferece a comunidades extrativistas. As pesquisas se deram sobre o consumo de plantas alimentícias em área de Mata Atlântica em comunidades no estado de Alagoas.

Taiobas na Trilha Sensorial do PEI

Entre os objetivos do trabalho de Medeiros está o de estimular a demanda por alimentos que não estão associados ao uso de insumos agrícolas. A pesquisadora trabalha, entre outros aspectos, com a etnobiologia, área de estudos que conjuga aspectos culturais de comunidades extrativistas e suas relações com a biodiversidade.

Uma das barreiras ao consumo das Panc ocorre pela falta de conhecimento, o que gera aversão a esse tipo de alimento − a chamada neofobia alimentar. Como estratégia para popularizar o consumo, a pesquisadora tenta denominar as espécies não convencionais com nomes similares aos das frutas, raízes e plantas mais populares.

De acordo com José Odali Carlos Barbosa, morador da região e funcionário do PEI, as principais plantas alimentícias consumidas pelos moradores do entorno são as frutas Cambuci, Jaracatiá, Bacupari(parece uma goiaba), Rabiu (parece uma azeitona amarela); Araçá; Oiti (parece uma manga achatada); Abacaxi bravo silvestre; Taioba, uma folha consumida refogada; e o Inhame nativo, que tem formato de rama.

A importância do resgate dessas culturas alimentícias tem a ver com o retorno às origens de culturas regionais pré agrícolas. O conhecimento sobre esses alimentos aos poucos foi se perdendo em meio à chegada da agricultura de larga escala e dos hipermercados. Isso restringiu as possibilidades do cardápio da maioria da população.

Um exemplo é o Cambuci, onde a popularidade, uso e conhecimento foram desaparecendo aos poucos quase que em compasso com a Mata Atlântica. Hoje em dia, muito pouco se fala ou se aproveita das formas de consumo da fruta. Ela faz parte do catálogo de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

O Cambuci gosta de regiões com temperaturas amenas e se dá bem na região próxima à Serra do Mar, onde fica o PEI. Tem gosto parecido com o limão e possui aroma cítrico e adocicado. Antes dos frutos, a árvore apresenta flores brancas. Ela pode chegar a cinco metros de altura e produzir cerca de 200 quilos de fruta por ano.

De acordo com Gabriel Menezes, presidente do Instituto Auá, entidade que promove a Rota do Cambuci, um ciclo de feiras gastronômicas e incentivo à produção sustentável na região da Serra do Mar, em São Paulo, “a infusão do Cambuci na cachaça é a tradição mais popular do uso da fruta. Porém, de uns dez anos para cá começaram novas formas de beneficiamento, como na produção da geleia, suco, chás, bolos, salgados, licores, vinhos frisantes, molho para saladas e carnes, biscoitos e salgados. São mais de 450 itens produzidos hoje”.

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